sábado, 31 de março de 2012

Advogada denunciada por golpe...E isso acontece no Brasil todo





A juíza aposentada compulsoriamente Wandinelma dos Santos, revelou, ter sido "vítima" de uma tentativa de compra de sentenças judiciais em 2003, quando ainda trabalhava em Peixoto de Azevedo (608 km ao Norte de Cuiabá).


"A sentença chegou pronta pra mim. O preço eu iria estabelecer. Ele deixou a meu critério colocar o preço", disse a magistrada, se referindo ao emissário da proposta.


A tentativa de compra de sentença, segundo a juíza, foi feita por parte do escritório da advogada Célia Cury, esposa do desembargador Tadeu Cury. A magistrada ainda reclamou da falta de atenção, no ano passado, por parte do então presidente do TJ, desembargador José Silvério, quando ela o procurou para denunciar o suposto esquema de venda de sentenças.


A abordagem, conforme Wandinelma dos Santos, foi intermediada por um acadêmico de Direito que trabalhava para a advogada Célia Cury. Agora, a magistrada teme por sua segurança.


"O único juiz que falou o que estou falando, na história do Brasil, o único que se atreveu a falar o que eu falei, amanheceu com quatro balas no corpo e o corpo carbonizado", disse Wandinelma, em alusão à morte do juiz Leopoldino Marques do Amaral, em 1999, no Paraguai.


Venda de sentença


Em entrevista à emissora, o desembargador José Silvério negou ter conversado com a magistrada, durante o período em que ocupou a presidência do TJ. E afirmou ainda que, se a juíza realmente quisesse denunciar casos de venda de sentenças, deveria ter procurado o presidente da comissão então criada para investigar indícios dessa irregularidade no âmbito do Poder Judiciário.


A denúncia feita ao telejornal "MTTV - 2ª Edicão", também veiculada no "Bom Dia, MT", na terça-feira (1º), ganhou o apoio da Associação dos Magistrados de Mato Grosso (Amam) e da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OAB-MT). A associação informou que quer acompanhar a investigação do caso.


O presidente da OAB-MT, Cláudio Stábile, por sua vez, decidiu abrir mais uma investigação contra a advogada Célia Cury, que já responde a um processo disciplinar, acusada de venda de sentenças. 


O presidente da Ordem defendeu que o Ministério Público também entre no caso e pediu punição aos responsáveis, caso a denúncia seja confirmada.


A aposentadoria


A juíza tenta reverter, na Justiça, a decisão do Pleno do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que a afastou de suas atividades, no dia 17 de março deste ano, por comportamento considerado incompatível com a magistratura.


Ela se defendeu e afirmou não ter deixado processos acumulados durante seu tempo de serviço.


"Eu não deixei nenhum processo para despachar, impulsionar, nem pra sentenciar. Eu entrei no Poder Judiciário pela porta da frente e quero sair pela porta da frente. Permanecer, eu não quero, porque eu não acredito mais no sistema que eu integrava", disse a magistrada.


Wandinelma dos Santos respondia pela comarca de Tangará da Serra (239 km a Noroeste de Cuiabá) e, agora aposentada, recebe normalmente pelo tempo de serviço prestado.


Entre os pontos que a levaram a ser "penalizada" com a aposentadoria compulsória estão a baixa produtividade e por ter ficado mais de 800 dias de licença de saúde - tendo sido vista, em 2009, no Carnaval de Salvador (BA), quando ainda gozava da licença para tratamento de saúde.


Elo central


A advogada Célia Cury não foi localizada para comentar as denúncias da juíza.


Conforme  revelou, em reportagem publicada em junho deste ano, com base em denúncia do Ministério Público Federal, Célia Maria Aburad Cury, casada com o desembargador José Tadeu Cury, é considerada pela instituição como um dos "elos centrais" do esquema criminoso que envolvia venda de sentenças por membros do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e Tribunal Regional Eleitoral.


"Pode-se apontar Célia como a estrutura central do grupo criminoso, tendo em vista que a ela se ligam tanto os destinatários finais dos pedidos (neste caso, os magistrados, sejam nas negociações efetivas de venda de sentença, sejam nos casos de exploração de prestígio) como os clientes/intermediadores (...) e os parentes de desembargadores", afirmou o MPF.


Na denúncia encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça, o subprocurador-geral da República, Eugênio José Guilherme de Aragão, relatou a participação de cada "integrante da quadrilha".


No documento, Aragão relata que Célia tem um escritório de advocacia onde trabalha seu genro, Rodrigo Vieira Komochena, e que ela já teve como sócio Alessandro Jacarandá. 


"Por ser casada com desembargador, Célia possui trânsito fácil entre os magistrados e, ao longo da investigação, foi possível identificar sua proximidade com o juiz convocado Círio Miotto, bem como os desembargadores Evandro Stábile e Carlos Alberto Alves da Rocha", diz o subprocurador. 


Segundo investigação feita pela Polícia Federal, com acompanhamento do MPF, a advogada Célia Cury "mantém contato estreito" com parentes de magistrados. 


"É o caso de Fernando Ojeda, filho do desembargador Donato Fortunato Ojeda; Maísa Izabel Saddi Ornellas de Almeida, filha do desembargador Manoel Ornellas de Almeida, e Tiago Vieira de Souza Dorileo, neto do desembargador aposentado Ernani Vieira de Souza", relata a denúncia.


No suposto esquema levantado através da Operação Asafe, da Polícia Federal, ficou demonstrado, também, que a advogada se utilizava de servidores do TJ-MT para obter detalhes sobre processos

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